quinta-feira, 4 de junho de 2015

Quarenta Anos

(Mário de Andrade)
A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar… Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado… Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Ôh sono, vem!… Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida

Nenhum comentário:

Postar um comentário