sexta-feira, 30 de outubro de 2015

SONETO DO BREVE MOMENTO

(Vinícius de Moraes)


Plumas de ninhos em teus seios; urnas 
De rubras flores em teu ventre; flores 
Por todo corpo teu, terso das dores 
De primaveras loucas e noturnas. 

Pântanos vegetais em tuas pernas 
A fremir de serpentes e de sáurios 
Itinerantes pelos multivários 
Rios de águas estáticas e eternas. 

Feras bramindo nas estepes frias 
De tuas brancas nádegas vazias 
Como um deserto transmudado em neve. 

E em meio a essa inumana fauna e flora 
Eu, nu e só, a ouvir o Homem que chora 
A vida e a morte no momento breve.

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