sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Força Nordeste


(Giovanni Gouveia, Adriana Black, Henrique Black, Yolanda Black )

"Essa terra troncha
Linda, Seca e Fértil
Essa região, que faz comunhão
Esses cactus machos
Força do Destino
Não livre o caminho
De se retirar
Esse povo doido
Forte como a terra
Que com a esperança
Vai vivendo
Esse chão esquecido
Que com a chuva
Explode em verde
Festa boa pra danar..."

1985

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Poemas de lola aronovich 2

“Deixe de imaginar coisas.
Me dê sua mão,
E esqueça a imaginação.
Voe,
cante
e me ame.
Amanhã,
você vai para a escuridão.

Você canta,
você voa,
mas não me ama.
Você fez uma canção
mas não me deu
a sua mão.
Meu amor,
é porque você gosta
da multidão.”

Poemas de lola aronovich 1

“Meu coração é teu.
Não chore e não tente.
Bato azar, tum tum.”

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Eu Nunca Guardei Rebanhos

Alberto Caeiro

I -

Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Pesadelo

(Maurício Tapajós / Paulo César Pinheiro)

Quando o muro separa uma ponte une
Se a vingança encara o remorso pune
Você vem me agarra, alguém vem me solta
Você vai na marra, ela um dia volta
E se a força é tua ela um dia é nossa
Olha o muro, olha a ponte, olhe o dia de ontem chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

Você corta um verso, eu escrevo outro
Você me prende vivo, eu escapo morto
De repente olha eu de novo
Perturbando a paz, exigindo troco
Vamos por aí eu e meu cachorro
Olha um verso, olha o outro
Olha o velho, olha o moço chegando
Que medo você tem de nós, olha aí

O muro caiu, olha a ponte
Da liberdade guardiã
O braço do Cristo, horizonte
Abraça o dia de amanhã, olha aí

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Luto

Tudo que eu sempre quis da literatura, textos que revolucionam a língua e a sociedade. Mas quem tem obra boa é imortal, a tinta pode apagar mas antes que aconteça outra cópia está disposta...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Os Colares e as Contas

Marcelo Mário de Melo

Em memória de Ednaldo Miranda

A esperança de um homem
também cansa.
E há aquele dia
em que ele reúne as ruínas
e ensaia a retirada.

Um misto de perfume e pólvora
bafeja o colóquio
do Rei Midas
com o Rei Mídia
ali onde vampiros erguem brindes
e urnas recolhem
votos e mais votos.

Crianças amolam as navalhas
no peito dos mendigos
olhando os vendilhões
do shopping-templo.

Rosas vermelhas requebram
pintando-se de cinza/amarelo.
E pétalas vão caindo nas cloacas.

O cenário é um painel
de uniformizada geometria
onde todas as figuras se arredondam
decepando-se de bases
vértices e arestas.

Na coreografia se destaca
um quadrado de quinas desbastadas
ralando-se em rodeios de roda
e acenando ao rei.

Na orquestração
foram mixados e diluídos
os gritos e gemidos
da teia e da tocaia.

Mas emergindo da gosma
de negócios e discursos
as dores da cidade vaga-lumam
e se inscrevem
nas linhas do arco-íris.

Um raio colorido acende o chão.
O homem é arrastado à rua por um imã
e lê no céu com a multidão.

Dos olhos se descolam
películas geladas.
As bocas rugem um sopro
que unido em ventania arranca
cenários palcos máscaras
fantasias e cartazes.
E vaias vomitam línguas de fogo
formando fogueiras aladas.

Uma chuva leva as cinzas
e lava as cicatrizes.
O sol se alarga meio metro
e enxuga tudo num instante.

De um lado gritam: fogo!
Queremos fogo!

Mas nada de incêndios loucos.
Poupemos nossas chamas
como se faz com os trocados
e as roupas de domingo.

Alguém lamenta amargo:
estou cansado de plantar
sem ver os frutos!

Mas aqui ninguém ingressa
no primeiro ato
nem há de alcançar o último.
Não existem cadeiras numeradas
e às vezes as cortinas são fechadas
enquanto continua
o espetáculo sem reprise.

A vida de um homem
é um colar de contas ano a ano.
A vida de um país se conta
em colares de décadas e séculos.

Os ritmos da história
não cabem nos quadrantes do relógio
nem podem ser guardados
no cofre ou no casaco de ninguém.

Mas sem as horas e os minutos militantes
retarda-se a história
também movida
a sonhos bem guardados.

As linhas do arco-íris dizem mais
do que todas as telas coloridas.
E elas anunciam
estrada e horizonte
unindo
vaga-lumes e estrelas.
QUEM O FARÁ?

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Explode Coração

Trilha sonora do PIG nessas eleições:

Explode Coração
Gonzaguinha
Composição: Gonzaguinha

Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar

Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã

Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sorrindo, sofrendo, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Carnaval do Recife





Ascenso Ferreira
(1895-1965)

Meteram uma peixeira no bucho de Colombina
que a pobre, coitada, a canela esticou!
Deram um rabo-de-arraia em Arlequim,
um clister de sebo quente em Pierrô!

E somente ficaram os máscaras da terra:
Parafusos, Mateus e Papangus...
e as Bestas-Feras impertinentes,
os Cabeções e as Burras-Calus...
realizando, contentes, o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

- Mulata danada, lá vem Quitandeira,
lá vem Quitandeira que tá de matá!

- Olha o passso do siricongado!
- Olha o passo da siriema!
- Olha o passo do jaburu!
E a Nação-de-Cambinda-Velha!
E a Nação-de-Cambinda Nova!
E a Nação-de-Leão-Coroado!

- Danou-se, mulata, que o queima é danado!
- Eu quero virá arcanfô!
Que imensa poesia nos blocos cantando:
"Todo mundo emprega
grande catatau,
pra ver se me pega
o teu olho mal!"
- Viva o Bloco das Flores! Os Batutas!
Apois-fum!
(Como é brasileira a verve desse nome: Apois-fum!)
E o Clube do Pão Duro!
(É mesmo duro de roer o pão do pobre!)

- Lá vem o homem dos três cabaços na vara!
"Quem tirar a polícia prende!"

- Eh, garajuba!
Carnavá, meu carnavá,
tua alegria me consome...
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegô o tempo das muié largá os home!
Chegou lá nada...

Chegou foi o tempo delas pegarem os homens,
porque chegou o carnaval do Recife,
o carnaval mulato do Recife,
o carnaval melhor do mundo!

- Pega o pirão, esmorecido!

De Chapéu-de-sol Aberto


(Capiba)
De chapéu de sol aberto
Pelas ruas eu vou
A multidão me acompanha, eu vou
Eu vou e venho pra onde não sei
Só sei que carrego alegria
Pra dar e vender
(deixa o barco correr)
Espero um ano inteiro
Até ver chegar fevereiro
Pra ouvir o clarim clarinar
E a alegria chegar
Essa alegria que em mim
Parece que não terá fim
Mas, se um dia o frevo acabar
Juro que eu vou chorar.

Marcha Da Folia


(Raul Moraes)

Blocos das flores por onde passa
semeia com tal graça
ao som de lindas canções.
E os esplendores desta alegria
que as almas extasia
e apaixona os corações.

Viva a folia do carnaval (bis)
intensa alegria sem outra igual.
Que ouvidar faz a dor ferina
que nos ensina a sorrir e amar.

Temos a vida só dissabores,
tristeza e amargores
e a desilusão final.
Mas de vencida o mal levemos
esqueçamos que sofremos

divertindo o carnaval.
Viva a folia do carnaval (bis)
intensa alegria sem outra igual.
Que ouvidar faz a dor ferina
que nos ensina a sorrir e amar

ÚLTIMO REGRESSO



(GETÚLIO CAVALCANTI)


FALAM TANTO QUE MEU BLOCO ESTÁ

DANDO ADEUS PRÁ NUNCA MAIS SAIR

E DEPOIS QUE ELE DESFILAR

DO SEU POVO VAI SE DESPEDIRAdicionar imagem

NO REGRESSO DE NÃO MAIS VOLTAR

SUAS PASTORAS VÃO PEDIR

NÃO DEIXEM, NÃO

QUE UM BLOCO CAMPEÃO

GUARDE NO PEITO A DOR DE NÃO CANTAR

UM BLOCO À MAIS

É O SONHO QUE SE FAZ

NOS PASTORIS DA VIDA SINGULAR

É LINDO VER

O DIA AMANHECER

COM VIOLÕES E PASTORINHAS MIL

DIZENDO BEM

QUE O RECIFE TEM

O CARNAVAL MELHOR DO MEU BRASIL

FLABELO DAS ILUSÕES

(Heleno Ramalho)


chora bandolim

chora violão

o meu coração é assim

ah, linda pastora de voz tão macia

canta meu verso, minha melodia

enquanto há tempo para se cantar

ah, viver assim não é sonhar à toa

eu faço parte dessa gente boa

que ainda voa atrás de luar

vê, o meu recife se enfeitou demais

olha, até o rio parou de correr

só prá ver meu bloco de recordações

com um flabelo feito de ilusões

me levando de volta prá você

Piaba de Ouro


(Lula Queiroga e Erasto Vasconcelos)

Hoje eu não quero saber
Hoje eu não sei de nada
Eu só quero escutar esse baque
Que faz o meu corpo arrepiar

É de maracatu é de jóia rara
É o meu pernambuco de pé
Quero subir para ver

Caboclo de lanca no alto da sé

Olha quem vem lá
Olha quem vem lá
Quê bonito ver

A moça que ginga no baque Solto
Estrela brilhante
Piaba de ouro eu quero ver