domingo, 4 de dezembro de 2016

A LUTA VALE A PENA


Marcelo Mário de Melo
[A Hiran Pereira, homem de teatro e dirigente comunista em Pernambuco, assassinado e desaparecido nos tempos da ditadura de 1964]
Vale a pena sim
remar contra a maré
pois muitos ainda
não têm pão
nem peixe
e estão unidos
os que atiram
as primeiras pedras.
Vale a pena sim
seguir a estrada
recuar
na trilha ameaçada
e voltar
pé ante pé
lançando
o sal e a semente.
Vale a pena sim.
Enfrentar a intolerância
lutar por liberdade
são coisas
que só fazem bem
em toda idade.
Vale a pena sim
vale a pena a nós
vale a pena a vós
vale a pena a mim.
Vale a pena sim!

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Nestes Tempos...

(se alguém souber a autoria favor informar)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

Memória

(Carlos Drummond de Andrade)

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

                             Nada pode o olvido
                             contra o sem sentido
                             apelo do Não.

                                                                 As coisas tangíveis
                                                                 tornam-se insensíveis
                                                                 à palma da mão

                                                                                                        Mas as coisas findas
                                                                                                        muito mais que lindas,
                                                                                                        essas ficarão.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Sol e lua

Pra que luzes vindas dos postes, se temos sol e lua?
Papagaios, pipas e pandorgas,
Sem cerol, cabresto ou linha,
quero apenas seu voar...

(Foto Camila Hianne)

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Lorca

Quem são os imbecis, lacaios de Franco?
Quem são os idiotas com ridículos chapéus?
O medo assombrado de quem teme a arma da palavra é imensurável.
Do outro lado, vejo um homem destemido, declamando seu último poema
EM VIDA!
Ao contrário do que ele sugeriu à lua, ele não foge
Ergue o braço em sinal de eterna luta!
Quem é Franco?
Quantos somos Lorca?


(Recife, 12/082016)




“Mariana,
Que é o homem sem liberdade?
Sem essa luz harmoniosa e fixa que se sente por dentro?
Como poderia te querer não sendo livre, diz-me?
Como te dar este firme coração se não é meu? Não temas;
Como te dar este firme coração, se não é meu?”

quarta-feira, 27 de julho de 2016

TE QUERO

 PABLO NERUDA

Não te quero senão porque te quero 

 E de querer-te a não querer-te chego 

 E de esperar-te quando não te espero 

Passa meu coração do frio ao fogo. 

Te quero só porque a ti te quero, 

Te odeio sem fim, e odiando-te rogo, 

E a medida de meu amor viageiro 

É não ver-te e amar-te como um cego. 

Talvez consumirá a luz de janeiro 

Seu raio cruel, meu coração inteiro, 

 Roubando-me a chave do sossego. 

 Nesta história só eu morro 

E morrerei de amor porque te quero, 

Porque te quero, amor, a sangue e a fogo.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Minha poesia

Onde estão aqueles versos
Que às lágrimas deitei no papel?
Onde foram os poemas
Que escrevi enquanto eu sangrava
Traças, tempo, tempestades
Secaram-me as lágrimas
A sangria estancou-se
Mas os versos de minha poesia
Foram escritos pela pena da saudade
E a tinta inapagável do Amor
Não mais há os versos a acienne
Mas todos aqueles
Que a vida tatuou em minh'alma

(Recife, 22 de Junho de 2016)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Carrego o peso da lua

Paulo Leminski

"Carrego o peso da lua,
Três paixões mal curadas,
Um Saara de páginas,
Essa infinita madrugada.Viver de noite
Me fez senhor do fogo.
A vocês, eu deixo o sono.
O sonho, não.
Esse, eu mesmo carrego. "


terça-feira, 7 de junho de 2016

Hai Kai do isolamento

Por morar na Gringa,

Mesmo os Brasileiros,

Sempre se confinam

(Recife, 07/06/2016)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Soneto do Desmantelo Azul


Carlos Pena Filho
Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori, as minhas mãos e as tuas.
Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.
E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.
E perdidos de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul

terça-feira, 31 de maio de 2016

Identidade

(Mia Couto ) 
Preciso ser um outro
para ser eu mesmo
Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta
Sou pólen sem insecto
Sou areia sustentando
o sexo das árvores
Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro
No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço
Mia Couto, in "Raiz de Orvalho e Outros Poemas"

terça-feira, 5 de abril de 2016

Tarde no Recife

(Joaquim Cardozo) 
Da ponte Maurício o céu e a cidade.
Fachada verde do Café Maxime,
Cais do Abacaxi. Gameleiras.
Da torre do Telégrafo òtico
A voz colorida das bandeiras anuncia
Que vapores entram no horizonte.
Tanta gente apressada, tanta mulher bonita;
A tagarelice dos bondes e dos automóveis.
Um camelô gritando: – Alerta!
Algazarra. Seis horas. Os sinos.
Recife Romântico dos crepúsculos das pontes,
Dos crepúsculos que assitiram à passagem dos fidalgos holandeses,
Que assistem agora ao movimento das ruas tumultuosas,
Que assistirão mais tarde à passagem dos aviões para as costas do Pacífico;
Recife romântico dos crepúsculos das pontes
E da beleza católica do rio.

quarta-feira, 23 de março de 2016

quarta-feira, 9 de março de 2016

Reconstituição

(Elisa Lucinda)


Tive de repente
saudade da bebida que eu estava bebendo...
tive saudade e tentei me lembrar que gosto faltava,
qual era a bebida...
Fui procurando entre copos e móveis
e dei com sua boca.

A saudade era dela
A bebida era o beijo.