sexta-feira, 22 de junho de 2012

São João do Carneirinho


Eu plantei meu milho todo no dia de São José
Se me ajuda a providência, vamos ter milho à grané
Vou "coiê" pelos meus "caico"
20 espiga em cada pé
Pelos caico eu vou coiê 20
espiga em cada pé
Ai São João, São João do Carneirinho
Você é tão bonzinho
Fale com São José, fale lá com São José
Peça Pra ele me ajudar
Peça pra meu milho dá
20 espiga em cada pé.

Aquilo Bom

Luíz Gonzaga

Quando eu me encontro
com as garotas do Leblon
chega a ser aquilo bom
aquilo bom
é maricota, Mariquita e Marion
chega a ser aquilo bom, aquilo bom
Tem uma moreninha
e tem uma marrom
tem uma loira sofisticadinha
chega a ser aquilo bom, aquilo bom
Quando chega o domingo
vou correndo pro Leblon
chego na praia
tibungo com as meninas
chega a ser aquilo bom, aquilo bom
chega a ser aquilo bom, aquilo bom

terça-feira, 19 de junho de 2012

Olinda

“De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.
As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente.
Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.
Tão verdágua e não se sabe
A não ser quando se sai.
Não porque antes se visse,
Mas porque não se vê mais.
As claras paisagens dormem
No olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
Só se reúnem na ausência.
Limpeza tal só imagino
Que possa haver nas vivendas
Das aves, nas áreas altas,
Muito além do além das lendas.
Os acidentes, na luz,
Não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
Nem há mar, nem céu, nem velas.
Quando a luz é muito intensa
É quando mais frágil é;
Planície, que de tão plana
Parecesse em pé (PENA FILHO, 1983; 18).

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Solilóquio de um Visionário


augusto dos anjos

Para desvirginar o labirinto
Do velho e metafísico Mistério,
Comi meus olhos crus no cemitério,
Numa antropofagia de faminto!
A digestão desse manjar funéreo
Tornado sangue transformou-me o instinto
De humanas impressões. visuais que eu sinto,
Nas divinas visões do íncola etéreo!
Vestido de Hidrogenio incandescente,
Vaguei um século, improficuamente,
Pelas monotonias siderais...
Subi talvez ás máximas alturas,
Mas, se hoje volto assim, com a alma às escuras,
É necessário que ainda eu suba mais!


Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/augusto-dos-anjos/soliloquio-de-um-visionario.php#ixzz1y9MpKOk6