quarta-feira, 27 de maio de 2015

NO TEMPO EM QUE SONHÁVAMOS

 (Ribeiro Halves)
No tempo em que sonhávamos,
nós éramos despertos...
Vestíamos a noite insone
com a luz das auroras,
dos jasmins e mariposas;
povoada de sussurros.
Nós tínhamos raízes,
robustas e fortes,
cobrindo todo o espaço;
qual nuvem de pássaros
ou cardumes de folhas.
Andávamos com as árvores
e tecíamos as chuvas
com o delicado sereno
das madrugadas desertas;
habitadas de crepúsculos.
Nós sabíamos do fogo,
sua vida obscura,
e amávamos suas brasas
espalhadas pela terra;
centelhas de raios voando
ao sopro de vaga-lumes.
Deitávamos, solenes, as pedras
no leito dos rios e fontes
como quem semeia a lua
sobre o sangue da fêmea;
ou ao mar recolhe a lágrima
do doce olhar das crianças.
No tempo em que sonhávamos,
nós éramos despertos
e as palavras dormiam
na carne de nossas almas...
e o Espírito brincava (todo dia),
dançava na Sua presença
e se alegrava com os homens.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Cenas urbanas


Desbravando o metrô, depois de um sorriso aguado de alguém que tirou minha cadeira, consegui me sentar. À minha frente , um rapazinho fotografando a nova camisa do novo cargo, "BOMBEIRO CIVIL" "RESGATE". Rapazinho com adrenalina a mil, felicidade estampada no sorriso. Ele acariciando a cabeça, eu lia nos seus lábios de felicidade: "pustz", e acariciava a camisa, e sorria, e olhava pra mim. Tive vontade de dizer "parabéns", fiquei tímido. Mas o rapaz olhava maravilhado as fotos do celular. Espero que meu sorrisinho tenha-no saudado pela vitória. 
Faça valer sua conquista, seu moço. Emocionei-me quase tanto quanto vossa mercê

Recife, 20 de Maio de 2014

terça-feira, 19 de maio de 2015

Isso é Muita Sabedoria


Quando fazemos tudo para que nos amem e não conseguimos, resta-nos um último recurso: não fazer mais nada. Por isso, digo, quando não obtivermos o amor, o afeto ou a ternura que havíamos solicitado, melhor será desistirmos e procurar mais adiante os sentimentos que nos negaram. Não fazer esforços inúteis, pois o amor nasce, ou não, espontaneamente, mas nunca por força de imposição. Às vezes, é inútil esforçar-se demais, nada se consegue;outras vezes, nada damos e o amor se rende aos nossos pés. Os sentimentos são sempre uma surpresa. Nunca foram uma caridade mendigada, uma compaixão ou um favor concedido. Quase sempre amamos a quem nos ama mal, e desprezamos quem melhor nos quer. Assim, repito, quando tivermos feito tudo para conseguir um amor, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer.

Clarice Lispector

terça-feira, 5 de maio de 2015

Bilhete

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

(Mário Quintana)